Ameaçados 120 postos de trabalho

<em>Sumolis</em> ameaça mudar-se

Após ter recebido milhões do PEDIP II, a administração da a Su­molis pretende despedir 120 trabalhadores, caso não aceitem mudar-se, com a unidade, para o Pombal.

2 mi­lhões e 360 mil contos do PEDIP foram gastos em Car­na­xide

Os trabalhadores saíram do plenário de dia 19, da fábrica de Carnaxide, em Oeiras, reclamando o direito ao trabalho, contra o desemprego. Segundo o dirigente do Sindicato Nacional da Indústria dos Trabalhadores de Bebidas, João Pinto, os funcionários foram informados da intenção da empresa no dia 12, através de cartas individuais, e decidiram, neste plenário, exigir a continuação da unidade em Carnaxide, que está modernizada e tem apenas 12 anos de existência.
Em reunião com os sindicatos na semana anterior, a administração da Su­molis justificou a mudança com as quebras registadas na produção em Carnaxide, de 46 milhões de litros, em 2001, para 32 milhões, em 2004.
O mesmo dirigente sindical afirmou que a administração está a ameaçar os trabalhadores com três alternativas: «ou rescindem os contratos, ou vão para o Pombal, ou são despedidos».
Quem aceitar mudar a sua vida «recebe subsídios de cerca de 180 euros por mês, apenas por três anos», afirmou João Pinto. Ao fim do triénio, termina a comparticipação.

Fundos es­ban­jados

A deslocalização terá por base negócios de especulação imobiliária: «Os terrenos valem muito», afirmou João Pinto, chamou a atenção para a existência de um posto à en­trada do es­paço onde se re­a­lizou o ple­nário, onde se lia que a teve be­ne­fí­cios do PEDIP II, de 2 mi­lhões e 360 mil contos, para esta uni­dade em Car­na­xide.
O sin­di­cato con­si­dera que o PDM po­derá ser al­te­rado nos pró­ximos anos, pas­sando a au­to­rizar a con­versão do es­paço para fins ur­ba­nís­ticos e, então, a ur­ba­ni­zação po­derá avançar.
Por outro lado, «o Có­digo do Tra­balho au­to­riza o alar­ga­mento sig­ni­fi­ca­tivo dos ho­rá­rios de tra­balho, per­mi­tindo que a em­presa pro­duza o mesmo com menos tra­ba­lha­dores», es­cla­receu João Pinto. A em­presa pre­tende con­ti­nuar a pro­duzir os mesmo re­sul­tados em Pombal, di­mi­nuindo os custos com pes­soal.
Para o sin­di­cato, a Su­molis devia dar a pos­si­bi­li­dade de os tra­ba­lha­dores po­derem des­locar-se de com­boio, para tra­ba­lhar em Pombal. Mas, se­gundo João Pinto, «a me­dida foi re­jei­tada pela ad­mi­nis­tração».

Um mês de luta

Os tra­ba­lha­dores têm trinta dias, desde a re­cepção das cartas para «fazer das tripas co­ração», no sen­tido de manter os postos de tra­balho, disse João Pinto. A em­presa prevê o des­man­te­la­mento até 30 de Junho. Os que aceitem a trans­fe­rência, terão de a efec­tivar até 16 de Maio. No ple­nário, ne­nhum tra­ba­lhador ma­ni­festou a in­tenção de a aceitar.
Os tra­ba­lha­dores vão agora pedir au­di­ên­cias às ins­ti­tui­ções do Es­tado en­vol­vidas no pro­cesso, e adoptar formas de luta, no sen­tido de não per­mitir o des­man­te­la­mento: «Acre­di­tamos ainda haver, neste País, gente res­pon­sável que pe­dirá contas à ad­mi­nis­tração por ter re­ce­bido di­nheiros do PEDIP, que é do povo por­tu­guês, para agora en­cerrar», con­si­derou o mesmo sin­di­ca­lista.
Para tra­ba­lha­dores e sin­di­cato, há todas as con­di­ções para a em­presa con­ti­nuar, desde que a ad­mi­nis­tração o pre­tenda: «A uni­dade já pro­duziu 46 mi­lhões de li­tros e agora afirma, de re­pente, que é im­pos­sível voltar a pro­duzir a mesma quan­ti­dade.»«É uma fa­lácia, uma vez que a ren­ta­bi­li­dade da em­presa de­pende das vendas», con­si­derou João Pinto.

Ma­nobra ex­cur­si­o­nista

Fer­nando Guerra, de­le­gado sin­dical, contou-nos como a ad­mi­nis­tração da Su­molisCom 33 anos de casa, Fer­nando Guerra en­cara a pos­si­bi­li­dade de aban­donar a uni­dade, mas tem 52 de idade, e a cons­ci­ência das di­fi­cul­dades para en­con­trar novo em­prego, além de con­si­derar bas­tante fraca a in­dem­ni­zação a que teria di­reito, caso res­cin­disse. Vai, por isso, lutar, pelo posto de tra­balho.

Com quem tra­balha

O de­pu­tado do Grupo Par­la­mentar do PCP, An­tónio Fi­lipe, es­teve pre­sente, à saída do ple­nário, «com o ob­jec­tivo de co­nhecer pela voz dos tra­ba­lha­dores, a sua po­sição e que me­didas ten­ci­onam adoptar», afirmou ao Avante!.
O PCP pre­tende ver «as­su­midas res­pon­sa­bi­li­dades pela si­tu­ação, tendo em conta que a Su­molis re­cebeu di­nheiros pú­blicos através do PEDIP para se ins­talar neste local e cons­truir a uni­dade», re­feriu. «É ina­cei­tável lançar no de­sem­prego 120 tra­ba­lha­dores sem que a ad­mi­nis­tração seja por isso res­pon­sa­bi­li­zada», acres­centou. «Da nossa parte iremos ac­tuar, no âm­bito da As­sem­bleia da Re­pú­blica, uma vez que es­tamos pe­rante uma si­tu­ação em que o Es­tado e os tra­ba­lha­dores saem de­frau­dados, por ter ha­vido um apoio pú­blico es­tatal para que fosse ins­ta­lada a em­presa, tendo de­pois a ad­mi­nis­tração to­mado a de­cisão uni­la­teral de a en­cerrar», con­si­derou. «Tudo fa­remos para sal­va­guardar os postos de tra­balho e manter a uni­dade de Car­na­xide em la­bo­ração», con­cluiu.


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